quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Amamentar, um ato polêmico

Recentemente, diversas polêmicas surgiram em relação ao ato de amamentar em público, dentre elas a foto de uma mulher amamentando enquanto pedalava em sua bicicleta e a foto postada pela deputada Manuela D´Avila causaram furor nas redes sociais em um embate sobre pudor, amamentação e que envolveu até o Carnaval na discussão toda.



Neste vídeo acima, vemos uma bem-humorada crítica sobre o ato de amamentar em público, no qual, de maneira irônica, a interlocutora nos diz que não devemos amamentar em público pois amamentar é utilizado como forma prioritária de constranger os demais e que a mulher não deve sair de casa pois quando ela é mãe, esse direito lhe é negado.

Seria até engraçado se não fosse tão triste e verdadeira essa visão sobre amamentação. Antes de eu me tornar mãe, eu até olhava com estranheza quando via uma mulher amamentando em público, no shopping ou na praça e pensava: "Poxa, como pode essa mulher não ter pudor e mostrar o peito assim? Quando for comigo, eu não vou fazer isso.".




Mas depois entendi que: quando se vira mãe as necessidades do seu filho se sobrepoem a diversas situações próprias suas. Sim, seu filho tem fome. Sim, ele precisa do peito como aconchego pois ele estava até então em um mundo quentinho e protegido e de repente ele está ali no mundo, nessa confusão toda e quer apenas um pouco de acalanto. E sim, cada criança é diferente. Embora nosso instinto natural seja mamífero, sempre haverá o bebê que preferirá a mamadeira e isso, minha cara, é particular de cada criança. Então, como julgar? Como julgar a mãe cujo filho não quis mais o peito? Como julgar a mãe que estendeu esse período?

Sei de mães que não conseguiram amamentar nem 10 dias e sei de algumas que foram por mais de 4 anos direto e, pensem, como dizer o que é correto e o que não é? Sei que a OMS recomenda amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses e que a amamentação deveria ser continuada por até no mínimo dois anos de idade pelas diversas razões já enumeradas antes. Seria perfeito que todas nós conseguíssemos fazer assim, mas até que ponto devemos tentar? E até que ponto devemos nos importar?

Hoje existe a corrente naturalista de mamães do parto natural, amamentação prolongada, cama compartilhada, entre outros tópicos. É lindo o que pregam, mas sob quais dificuldades? Tocar uma gravidez já está sendo difícil nos tempos de hoje e ainda somos julgadas e separadas em compartimentos estanques: se você teve cesariana, você é um fracasso.; se você não amamentou até o tempo recomendado, você sucumbiu à indústria da fórmula; se você deixa seu filho dormindo em seu próprio berço, é insensível. Neste ponto, vejo que as mulheres são muito desunidas: ou você faz parte do grupo ou é criticada. Existe pouco apoio e compreensão dentro do nosso gênero.

Meu filho deixou de mamar com 8 meses: foi uma escolha dele pois eu queria que ele mamasse até pelo menos 1 ano. Mas não aconteceu dessa maneira. Quando tirei o peito, ele nem sofreu, fui eu que sofri. Me senti impotente, enquanto ele estava impassível e parecia que nada tinha mudado. Alguns dias depois, conversando com minha cunhada, ela me disse: "Querida, você foi vencedora. Eu nem cheguei a amamentar meu filho pois ele passou mais de um mês na UTI, então mesmo eu tirando na bombinha, o meu leite secou por falta de estímulo. Você conseguiu amamentar por 8 meses e foi uma escolha do seu filho parar e olha aí como ele está saudável.". Uns dias depois, na fila do banco, nessas conversas amenas de maternidade, uma moça muito exausta me contava que a filha dela de 1 ano e 7 meses acordava de hora em hora para mamar e que ela estava com muita dor nas costas por ter que dormir em uma posição hábil para que a filha mamasse.

Resumindo: cada caso é um caso e cada binômio mãe-bebê é particular. Dá prá julgar? Acho que não. Hoje eu entendo muito bem os motivos de uma mãe que amamenta em público: ela faz isso por necessidade e por amor. Entendo a mãe que não consegue amamentar por muito tempo e entendo aquela que amamenta por mais de 2 anos: é o ritmo da mãe e filho e isso é uma coisa que só os dois podem decidir e ninguém mais. Se a mãe e o filho querem, a amamentação deve acontecer de forma natural. Se um dos dois não quer mais ou tem dificuldade, isso deve ser revisto e deve ser procurada uma alternativa tal como o desmame. Sei que é um processo doloroso, e também sei que meu desmame foi tranquilo e natural, então não posso falar a respeito disso sem ter plena consciência de que cada caso é um caso.



Deixo ainda este link: um projeto fotográfico muito lindo sobre amamentação.

Para concluir fica a lição: evite julgar as atitudes de uma mãe. Ela o faz movida por algo maior e não, ela não precisa de mais uma pessoa dando pitaco em sua vida, quanto mais uma pessoa que não sabe o peso que só ela carrega. Então, vamos ter mais amor, por favor?

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